sábado, 19 de maio de 2012

The street is calling I


"Les gens du Nord ne rèvent pas de girafes, les gens du Sud ne rèvent pas de chameaux".

Moi, je rève de girafes et de chameaux!

(As pessoas do Norte não sonham com girafas; as pessoas do Sul não sonham com camelos; eu, sonho com girafas e camelos)


Picture taken in Strasbourg, in front of the "École Supérieure des Arts Décoratifs de Strasbourg"


(Fotografia tirada em frente à referida Escola Superior, em Estrasburgo, que ocupa um bonito edifício)

sábado, 12 de maio de 2012

“There is harmony in terms of the person that I perhaps dreamed of being”


Joaquim Leitão falava da dinâmica, que existia nos seus filmes, entre o respeito por aquilo que é e por aquilo que poderia ser. No meu entendimento, artistas – incluindo, obviamente, os músicos – são agentes prevaricadores, que arriscam mais naquilo que poderia ser do que naquilo que é. É uma tensão quotidiana, é caminhar no fio da navalha; é um funâmbulo que pé ante pé percorre aquela linha tensa, suspensa do chão, sem rede, e que quando menos se espera dá aquela pirueta que não vem de lado algum, produzida não pelos músculos do artista mas pelo sonho de circo que temos em nós. O circo, esse mundo onde o que é encontra aquilo que poderia ser.

Andar pela vida – que é também sem rede mesmo quando a pensamos ver - é como tentar afinar um instrumento (e um piano também se afina). É preciso o som justo. Eu, enquanto jurista e entusiasta de direitos humanos, não sou diferente e aquilo que poderia ser, aquilo que deveria ser, o “quid ius”, o justo – recordo aqui que o novo Presidente eleito pelos Franceses disse que, no final do seu mandato, queria ser julgado pela justeza das suas decisões - é o que me faz singrar; mas, alto, Joaquim Leitão diz-nos que é preciso também respeitar aquilo que é, aquela ficção de realidade porque, caso contrário, a nossa récita de vida, de projecto de vida, não será verídica porque não será justa. Os sonhos terão que ser minimamente verídicos para serem sonhados? Ou para serem vividos? Felizes aqueles que viverão sonhos não verídicos!

Ontem, fui apanhado de surpresa – como todos nós – com a notícia que me chegava daquela falésia do Guincho; da imagem que Bernardo Sassetti andava à procura, da imagem abstracta, que talvez uma falésia, o mar, o vento, bemóis e sustenidos que enrolavam na onda que batia contra a rocha continham.

Há dias, soube que há um povo no nordeste do Togo, os Batammariba, cujo modo de vida foi considerado património imaterial da humanidade pela UNESCO. A transmissão do saber dos Batammariba é baseada na escuta, numa atenção estrita entre a gestualidade, o quotidiano, a maneira de falar e a inflexão da entoação. Os Batammariba são uma outra maneira de descrever Bernardo Sassetti e todos aqueles que acreditam num mundo que está por vir que é melhor do que aquele que aqui está; e que, por isso, lhe acrescentam o que têm de criatividade e engenho.

Quando soube que Bernardo Sassetti perecera, tentei, com afã, lembrar-me onde o tinha visto ao vivo – e aqui, a expressão, trai-me, ou talvez não – pela última vez: teria sido no festival de jazz de Coimbra, ou no Funchal Jazz, ou no Porto, ou teria somente imaginado sonhos possíveis de ver os “3 pianos” (que vi nessa mesma noite, por amável simpatia – a simpatia do serviço público - da RTPi)?

Nesse mesmo dia, fui ver, em homenagem ao Bernardo Sassetti, o pianista turco Fazil Say ( e que bonito é um pianista ter espelhado no nome a récita do dizer, “say”). As mãos de Say dançavam durante o concerto, abriam caminho para o seu corpo, para a orquestra filarmónica de Estrasburgo, e para toda a plateia que ali estava; as mãos de Say introduziam-nos àquele mundo do que poderia ser. As mãos de Sassetti faziam o mesmo. E a imagem sonora que Sassetti procurava por entre as falésias do Guincho: onde estará elas em nós?

O mais importante sobre Bernardo Sassetti é, talvez, o que ouvi, através de um ecrã de televisão, da boca de um amigo: humano, essencialmente humano. Como um grande artista que era, humano, acima de tudo. Um abraço!

Depois de ancorado e sobre o título: retroversão para inglês de “Tudo está equilibrado com a pessoa que eu talvez tenha sonhado ser", que é  uma frase retirada da entrevista de Ana Sousa Dias à Beatriz Batarda, a esposa de Bernardo Sassetti, para a revista "UP", cujo lema é "ouse sonhar mais alto" e que pode ser lida aqui.