O que era estranho não era haver uma imagem de uma baguete na reportagem da
Agence France Presse; o que era estranho era o contexto: aquela baguete, esse
substantivo feminino que amolece corações como se amolece estômagos, posicionada
como um míssil de longo alcance (apesar deste míssil não matar ninguém, apenas
a fome), encimava um monte de provisões que esperava por ser cuidadosamente acondicionado
no blindado que seguiria para o Norte (do Mali); a ajuda veio do Norte para o
Sul para que se pudesse combater a Norte evitando perigos ao Sul, que se
propagariam a Norte.
Entre caixas de munições, mochilas com o essencial para sobreviver, rádios
e sonhos de estabilidade e unidade, havia aquela baguete. Apontaria também ela
para o Norte?
Minutos antes, via Daniel Cohn-Bendit discursar, no Parlamento Europeu,
perante a Alta Representante da União (?) [Europeia] para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança; ele dizia que falamos em “nós” mas são as tropas francesas que estão
no terreno; que “nós” vamos enviar os enfermeiros para cuidar dos feridos
enquanto os franceses, sozinhos, estarão apeados, no Norte (ou a caminho do
Norte). A Alta Representante tomava notas enquanto olhava, de quando em vez,
para Cohn-Bendit. Será que essas notas apontariam também para Norte?
A baguete, fresca, com rasgos de padeiro, apontava, certamente, para Norte.
A dificuldade é saber quem e o que regressará do Norte.