Na
praça do mar, onde palmeiras se cruzam com vegetação endémica da
Madeira (valha-nos o dragoeiro), ainda há resquícios da Madeira
Velha: há sem-abrigo que têm o desplante de dormir em pleno dia, no
mesmo luar onde, nos Sábados à noite de Junho, se vê o fogo de
artifício, entre músicas e sorrisos.
Precisamos
que nos dêem menos música e mais sorrisos, daqueles de verdade, não
daqueles que visam o nosso bolso.
Ontem,
comprei um bordado madeira a uma senhora que já não podia bordar
girassóis porque era ponto muito pequeno. O olhar-sol (e não falo
do olhar de Luís XIV) eclipsa-se ao mesmo tempo que o girassol fica
desnorteado pois não sabe para onde voltar-se. Aqueles a quem lhes
reduziram pensões, salários, lhes tiraram a liberdade de ganhar o
pão arregaçando as mangas e picando o ponto – mesmo que
imaginário - também perderam, pelo menos momentaneamente, o sol que
os iluminava.
Quando
se perde um emprego são precisas outras referências mas numa
sociedade alicerçada no modelo social
trabalho-casa-carro-férias-e-tudo-cada-vez-maior-e-mais-longe não é
possível existir sem trabalhar. Em tempos, um amigo lembrou-me que
disfuncional é aquele que não tem função (i.e. emprego).
Disfuncional
é uma sociedade alicerçada nos pontos pequenos do girassol e que
não olha pela/à vista da senhora que já não os pode desenhar,
bordando-os.
Agora,
vou ao mercado (não o que nos suga a alma e empresa com alma parece
que foi algo que nunca existiu) mas o de verdade, onde trabalha
gente, o dos Lavradores, no Funchal.
Bom
Sábado com pontos pequenos dos girassóis!