Ela usava um vestido estampado de flores que lhe deixava os ombros
descobertos (achados?), como sabe bem no Verão. Estou muito longe – e os meus
conhecimentos de botânica deveriam ser certamente aperfeiçoados - para perceber
que flores são. Ela escrevinha num papel enquanto, bem ou mal, vai segurando o
telefone entre o ouvido – que vai trocando – e a mão que não segura na caneta. “Oui”,
“ok” vão, de quando em vez, entrecortando o que o interlocutor lhe vai dizendo.
Poderia ser uma pintura, um “déjeuner sur l’herbe” post-moderno em que ela estava
sozinha, com o almoço que comprara à pressa para levar e sem quase ter tempo de
levantar os olhos para apreciar o lugar onde estava; talvez um “déjeuner sans
herbe”. O bulício não parava; não podia
parar. Num movimento irreflectido, olho para a porta, e, nesse mesmo momento,
entra uma rapariga com um véu, uma outra personagem para o “déjeuner sur [ou
sans] herbe” post-moderno?
v. Into the Fashion INSPIRATION Édouard Manet 1863... Pablo Picasso 1960.