sábado, 15 de setembro de 2012

Portugal que amanhece


Visto num cartaz na manifestação da Avenida dos Aliados: “só os beijos me calarão a boca”.

Em frente à escadaria da Assembleia da República, ouvia-se “A polícia é do Povo”. Havia também um coração vermelho, recortado, que pairava por sobre a multidão, como os corações que se prezam.

A Inês, de 11 anos, dizia que esperava que com esta “revolução” o Passo Coelhos se demita.

Em Évora, dizia-se que o pior inimigo são os que não têm fome e que nos tiram o que comer.

No Funchal, havia gente na rua (o que já não é pouco).

domingo, 9 de setembro de 2012

Quando a emancipação feminina começa no fundo de uma caixa de madeira

No Norte da Nigéria, em Kano, a segunda maior cidade do país, uma caixa de madeira guarda economias de toda uma cooperativa. Em folhas de papel longe de estar liso, inscrevem-se economias e as linhas azuis naquela página de papel branco não mostram mais que 10 ou 20 cêntimos de euro por cooperante. Contudo, estas pequenas economias permitem fomentar toda uma economia local, através de empréstimos que permitem comprar animais, que depois ajudam a repagar o empréstimo e propiciam uma vida mais condigna. No ecrã de televisão onde vejo esta notícia há quase só mulheres. Os homens estão muito atarefados para este tipo de empreendedorismo. Contudo, há um homem que quer fazer parte desta cooperativa. Ele diz que ouviu falar daquelas mulheres e daquela cooperativa e que gostaria de comprar um animal para (sobre)viver. Elas levantam-se da cadeira, fincada sobre o pó da terra batida, ao lado da árvore que lhes ampara o sol e os pensamentos, e explicam-lhes as condições. No final, dizem-lhe que aquela caixa de madeira guarda também um pote de barro onde aqueles que violem o pacto colocam as notas da punição. No Norte da Nigéria, em Kano, a segunda maior cidade do país, a emancipação feminina começa numa caixa de madeira.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A contemporaneidade da aldeia da roupa branca


Em frente ao Museu de Arte Moderna e Contemporânea (MAMCS) de Estrasburgo, há uma senhora que estende roupa na varanda; e toda a contemporaneidade parece residir na aldeia da roupa branca na varanda da senhora que vive em frente ao MAMCS de Estrasburgo!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Os cantos dos pássaros nos sinos das tosquias


Arrumo livros - num dia bom, eu arrumaria e desarrumaria livros, abrindo-os, folheando-os, lendo passagens que a memória não guardou mas que ainda retinem no coração – e encontro, no “Poemário”-prenda-de-Natal, “Os Sinos” por Mário Rui de Oliveira.

“Como o amolador de tesouras, persiste no meio da cidade. Na sua inocência, as coisas por nós perdidas dançam. Que memória nos trazes, ó visitador? Que estradas conhecem tua voz, intimíssimo amigo que esquecemos?

É tarde e, talvez, já ninguém. Mas na rua passou a voz do amolador, orvalhada, como os sinos da velha igreja. Não tocam, mas os pássaros cantam lá dentro”.

Este poema é como a Nova Iorque dos campos na cidade: mesmo que nunca lá tenhamos estado, há um sentimento permanente de “déjà vu”.   

Um ou dois livros mais adiante - "Tosquias festa e arte por Luísa Gonçalves e Duarte Gomes" -encontro algo que me faz lembrar o amolador de tesouras: Mateus Filipe Miragaia, residente em Donfins, anexa da freguesia de S. Pedro do Jarmelo, no Concelho da Guarda, é o último artesão a produzir tesouras para tosquias. Hoje em dia, as tesouras já não mastigam tanto porque quase se abandonou a tosquia manual das ovelhas; mas quantos pássaros cantarão (caberão) nas pancadas na bigorna ao fazer as tesouras das tosquias?
 
 

sábado, 11 de agosto de 2012

11:11

Às 11:11 (ainda mais se for dia de São Martinho - 11 do 11 - e relembrarmo-nos da bonita estória do Verão de São Martinho) podemos ter sonhos vindos de todos os lados e sonhados de todas as maneiras. O que interessa são os sonhos vividos que cabem nas 11:11 (do dia 11 do 11 ou não).

O (im)possível está em (des)construção

Não é nada de novo mas tanto o possível como o impossível estão em permanente (des)construção; o que vai fazendo a diferença é o campo em que nos decidimos posicionar.

"Pour la petite histoire", o jornal em formato de revista "L'Impossible", que aqui dou conta, teve um número zero para ver se o impossível pegava (como se diria no Brasil); e não é que parece que pegou mesmo. No nº1 (na verdade, nº2) de tal jornal-revista o editor e pau para toda a obra Michel Butel diz que "ce journal, nous lui avons donné le nom du temps qui vient: l'Impossible". Cabe-nos a nós contrariar esta tendência do tempo que está por vir e torná-lo, isso sim, um tempo possível feito, com certeza, de muitos impossíveis.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Na verdade, Acção e Aventura


Ação (na verdade, acção) e Aventura (na verdade, tranquilidade)

Hoje, recebi a “newsletter” (na verdade, boletim informativo) da Livraria Almedina. Não sei se feito de propósito mas o “layout” (na verdade, o desenho) do boletim informativo era elucidativo (na verdade, sarcástico):
Título: Ação e aventura (v. supra)
Logo abaixo: Código do Trabalho (com desconto)
Ainda mais abaixo: Não nos Roubarão a Esperança (também com – muito - desconto)
E fica tudo dito (na verdade, vai nas entrelinhas).