Há dias cheguei a casa e passava no canal Arte um filme que nunca tinha visto, Mademoiselle Chambon, com Vincent Lindon e Sandrine Kiberlain. O amor começou com um complemento de objeto direto quando ainda nem se sabia que aquele sentimento já existia. Depois, houve um «Je pense à vous. Jean» (Eu penso em si. Jean), que estava escrito em dois níveis do papel dobrado. Numa linha, o pensamento; na outra, ele. Jean era casado e a Mademoiselle Chabon a professora do seu filho. Depois, foi uma janela que tinha de ser mudada na casa dela e ele era maçon. Ele percebeu que ela tocava violino. Ela não queria tocar na presença de outrem. Ele insistiu. Ela tocou de costas. Ele ouviu. Sentaram-se, um ao lado do outro e ouviram um disco. A mão na mão. A mão no rosto. O rosto na mão. O lábio nos lábios. Abraçaram-se como uma lágrima: doía e era bom. No dia seguinte, era dia de partida, mas ainda não se sabia como seria esse dia. Era um amor (im)possível: vinham de mundos diferentes, de mundos que não estavam predestinados a interagir, pelo menos não assim.