Hoje em dia, parece que ou temos sempre a bola e que as linhas de passe estão
(quase) todas fechadas ou que ninguém nos passa a bola. Vi finalmente o filme “Linha de Passe” de Walter Salles e de Daniela Thomas. O DVD contém também uma
entrevista com os realizadores; a páginas tantas, Daniela Thomas enuncia que o
filme é sobre veracidade. Fiquei na dúvida: seria sobre a veracidade da cidade
ou sobre ver a cidade. Pensei cá para mim que podemos ver a cidade sem veracidade. A
família do filme, que todos os dias e a toda a hora tem que abrir linhas de
passe mesmo sem saber se poderá alguma vez participar daquele jogo, mora na
Cidade Líder, um distrito-subúrbio (ou será subterfúgio?) a leste da cidade de São Paulo; mas poderia também chamar-se Cidade Invisível. É uma cidade que
não se sabe onde é, da qual não se ouve falar; é uma cidade a quem não se passa a
bola, mas ela apanha-a para a meter em jogo, para que o jogo não pare. O jogo não pode
parar.
A veracidade da cidade está em ter a coragem de interromper o jogo e
imaginá-lo fora do estádio onde nos disseram que podíamos jogar. Aí, haverá
linhas de passe para todos e a cidade invisível será, finalmente, a cidade
líder. Para isso é preciso que nos lembremos que este é verdadeiramente um jogo colectivo.
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