sexta-feira, 8 de junho de 2012

O que o mundo poderia ter sido é possível

Um dia um amigo italiano que havia trabalhado em Timor-Leste disse-me que Timor é o que o mundo poderia ter sido; na recente entrevista dada por Ramos Horta ao “Público” leio a frase com que ele a termina: “Timor é possível”. Por dedução silogística, o que o mundo poderia ter sido é possível.

Contudo, o mesmo jornal “Público” relata a festa da liberdade (a comemoração dos 10 anos da independência de Timor-Leste celebrada a 20 de Maio de 2012) e menciona que, durante as celebrações oficiais, as autoridades timorenses e os convidados encontravam-se de “costas viradas” [sic] para os timorenses; o terreiro de pó em que se encontravam os timorenses contrastava com as poltronas e cadeiras das tendas VIP para os dirigentes políticos e convidados. No país do sol nascente, parece que haverá afinal algo de novo sob o sol.

Em bahasa indonésio, “timor” significa leste; Timor-Leste é, por isso, o leste do leste, o que está verdadeiramente longe. Lembro-me de andar por Bali, a ilha dos Deuses, e de querer muito ir ao leste do leste. Perguntava como ir de Bali a Timor-Leste mas todos me diziam que era complicado. Na verdade, a distância psicológica entre Bali e Timor-Leste é muito maior que a distância física como descobri no dia do nosso regresso visto que há um voo directo de Bali para o leste do leste.

Pedro Rosa Mendes, num artigo sobre Timor-Leste, recorda-nos que “um país é uma casa sagrada”, o que seguramente os romanos já celebravam (em latim, “domus” significa simultaneamente casa e pátria). Eu e muitos outros construímos também a nossa “domus” em terras do leste do leste mesmo que nunca lá tenhamos ido.

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