Um dia um amigo italiano que havia trabalhado em Timor-Leste disse-me que
Timor é o que o mundo poderia ter sido; na recente entrevista dada por Ramos Horta ao “Público”
leio a frase com que ele a termina: “Timor é possível”.
Por dedução silogística, o que o mundo poderia ter sido é possível.
Contudo, o mesmo jornal “Público” relata a festa da liberdade (a comemoração
dos 10 anos da independência de Timor-Leste celebrada a 20 de Maio de 2012) e
menciona que, durante as celebrações oficiais, as autoridades timorenses e os convidados encontravam-se de “costas viradas” [sic] para os
timorenses; o terreiro de pó em que se encontravam os timorenses contrastava
com as poltronas e cadeiras das tendas VIP para os dirigentes políticos e convidados.
No país do sol nascente, parece que haverá afinal algo de novo sob o sol.
Em bahasa
indonésio, “timor” significa leste; Timor-Leste é, por isso, o leste do leste,
o que está verdadeiramente longe. Lembro-me de andar por Bali, a ilha dos
Deuses, e de querer muito ir ao leste do leste. Perguntava como ir de Bali a
Timor-Leste mas todos me diziam que era complicado. Na verdade, a distância
psicológica entre Bali e Timor-Leste é muito maior que a distância física como
descobri no dia do nosso regresso visto que há um voo directo de Bali para o
leste do leste.
Pedro Rosa Mendes,
num artigo sobre Timor-Leste, recorda-nos que “um país é uma casa sagrada”, o que
seguramente os romanos já celebravam (em latim, “domus” significa
simultaneamente casa e pátria). Eu e muitos outros construímos também a nossa “domus”
em terras do leste do leste mesmo que nunca lá tenhamos ido.
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