Machico, a leste da
ilha, no sítio das queijadas
Se coubesse aqui esta imagem, eu
diria que me apareceu um pacote de açúcar com a seguinte menção: “Uma noite
digo-te tudo o que gostaria de ouvir. Hoje é a noite.” Não havia pontos de exclamação
mas tudo cabia naquele esguio traço que termina com um ponto no chão.
Ontem, fui despedir-me de um
amigo, ao aeroporto; ao telefone, ele dizia que estava no café das despedidas,
onde se vê o mar e o céu (vê-se a pista donde parte a Amália Rodrigues, o José
Régio e outros aviões) e, ao fundo, as Desertas que descansam.
Depois, ele foi; ninguém ocupou a
cadeira que ele havia deixado vaga porque ninguém a poderia ocupar. Daí por um
bocado, desviámos os olhos do mar de olhares que navegavam naquela mesa que nos
unia para poder vê-lo partir, no avião cujo nome não sabíamos. Um dia, talvez,
veremos o seu nome no avião e na sua barriga entrarão meninos e meninas com os
olhos que brilham como a estrela de Belém porque vão estar no “mar de ar”. Tal
avião voará tão alto que não terá que responder às pragmáticas regras da
gravidade (nem da caridade) porque nem tudo o que sobe terá que cair e, poderá
então cair-se para cima, enlevar-se.
Há luzes que piscam no presépio
no sítio das queijadas, em Machico, como as asas do avião que foge às leis (da
gravidade e dos homens) e piscamos os olhos também.
Feliz Natal a quem deixa aquele
lugar vazio à volta da mesa que nos une!
O meu amigo, esse, pensaria no avião, naquele
menino que une o asfalto à favela, (agora,
comunidade) levando sonhos de pouca dura e trazendo notas, no intervalo de um Natal.
Mas o meu amigo, sabido, deixou-nos duas amigas para que o Natal não se acabasse e ele (será uma ela?) não pode acabar.
Mas o meu amigo, sabido, deixou-nos duas amigas para que o Natal não se acabasse e ele (será uma ela?) não pode acabar.