Hoje, estive num café-restaurante, em Tbilisi, onde via a “beautiful people”
passar e sentar-se para um café que custava o mesmo que uma refeição num outro.
As grandes janelas que deixavam entrar toda aquela luz, mediterrânica, que também
banhava as cerejeiras e outras árvores em flor de Tbilisi.
De repente, uma senhora de cabelos brancos e sacola colorida apareceu à
porta; não entrou porque não fazia parte daquele círculo; numa mão, uma laranja
luzidia e com os três dedos que restavam indicava o preço. Por momentos, não
lhe vi a face mas toda aquela luz que entrava por aquelas amplas janelas,
desenhava-lhe, ainda mais, uma cara mais sorridente ainda que invisível.
Eu, no espaço de dentro, dos incluídos, dos que puderam abrir a porta assisti
àquele espectáculo e só me apetecia era comprar aquele quilo de laranjas.
Por dentro, no espaço de livros, que era também este café e restaurante não
havia estória tão bonita como a daquela senhora de cabelos neutros, à espera de
serem esticados e cerzidos numa história, a história do quilo de laranjas que
ficou por contar.
Mais tarde, no passeio largo de uma avenida larga, vejo uma senhora, já de
idade, com um capote, que me lembra Gogol, a dobrar toda a espinha para chegar
ao chão e levantar uma moeda que de pouco valeria. Quantas moedas de 1, 2, 5,
10 cêntimos de euro ficaram por juntar nos passeios (largos ou estreitos) da
União Europeia?