Andava a matutar há já uns dias onde é que haveria uma padaria perto do
apartamento onde agora estou a ficar, em Tbilisi. Há um pão ázimo que é muito
conhecido por aqui, e, o que é ainda mais importante, é bom!
Há bossa nova na rádio (há sempre bossa nova na rádio mesmo quando eu não
escuto rádio) e olho para um pátio onde em dias de sol – como não é o de hoje –
convergem as famílias que não vivem nas fachadas dos edifícios. Na verdade, em
Tbilisi, isso é mais ou menos democrático: quem vive na fachada do edifício,
vive também nas traseiras do mesmo. Há basquetebol e jogos de cartas (o que eu
gosto de jogos de cartas e das coisas que se dizem enquanto jogamos cartas que
nos passam pelas mãos como pensamentos pela cabeça). Da secretária onde
escrevo, vejo este pátio, agora esvaziado pela chuva. Tenho, por sobre a mesa,
flores de olor forte, como (es)cravos em mês de Abril, e não me canso de olhar
para arquitecturas antinómicas que se avizinham.
O que é importante é que descobri uma padaria onde há pão ázimo, um pão
que, no meu imaginário, se associa ao Afeganistão, com um “ovo para molhar”, pela
manhã, feito pelo nosso cozinheiro Afegão do Paquistão.
Não sabia como dizer pão em georgiano pelo que depois de tê-lo dito em
inglês, disse-o em russo. A senhora do balcão percebeu-o. Disse que sim e que
estava lá atrás. Eu pedi um pequeno porque nunca se sabe como será mas, aqui,
não deveria ter duvidado: havia clientela à porta e uma furgoneta com
trabalhadores à espera para saciar o apetite da manhã de trabalho.
(O prato do pão estava vazio e lá fui eu em mais uma viagem até à cozinha
porque não se pode escrever verdadeiramente sobre pão sem prová-lo).
Por alguma razão, foi o patrão que me trouxe o pão (e a palavra pão cabe na
palavra patrão), num saco azul de mar, como se ele adivinhasse todas as
estórias que cabiam neste pão. Tentei perguntar como se dizia pão em georgiano
mas não fui bem sucedido. (O prato do pão está vazio, novamente, será que o
texto já vai muito alongado?).
Ele disse-me, então, que entrasse nesta padaria de 2 divisões e mostrou-me
o forno. O forno não é na parede como estou habituado; é no chão, como no
deserto. Tentei falar-lhe do Sahara e de como, aí, também se faz esse mesmo pão
(ou mais ou menos) da mesma maneira (ou mais ou menos), onde se cavam buracos na
areia e se usa excremento de camelo como combustível. Ele não percebeu a
palavra “Sahara”, talvez aqui se diga de outra maneira mas, agora, já tenho um
pretexto para futuras conversas.
Sem comentários:
Enviar um comentário