(À procura de uns papéis, encontrei este escrito no verso de uma folha que reproduzia a Carta de D. Manuel para os Reis Católicos, o manuscrito com o original da Carta que, em 1501, D. Manuel enviou aos Reis Católicos descrevendo a viagem da frota de Pedro Álvares Cabral).
Numa rua de Londres, há alguém cabisbaixo, com a face escondida. Vemos
apenas, daquele monte humano, uma parte dos pés – como uma estátua de um deus
do Olimpo – onde ainda se conseguem entrever os pés ou parte deles – o que
parecem umas pernas e um gorro onde está escrito “London”. “London” será,
provavelmente, uma formação, que, inicialmente, humana, por vezes, não tem
face; quer dizer, face tem, mas está escondida. Às vezes, a face encontra-se
num daqueles muitos jardins privados cujas grades não conseguem conter o
chilrear dos pássaros, mas, muitas vezes, a face está sentada na rua,
encoberta, com um gorro ou um boné e uma mão estendida; e nós? Europeus
co-titulares de um Prémio Nobel da Paz o que fazemos para que esta face não se
mantenha encoberta?
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