Em homenagem ao dia de hoje que é ontem com roupas de amanhã
Neste dia que não parecia fadado para que se passasse grande coisa, por
volta das 19h, saí para comprar pão: nestes 10 minutos de passeio, aconteceu-me
tudo o que pode caber num dia. Amaldiçoei a chuva até ver o arco-íris; parei
por uns minutos porque um arco-íris merece que se pare para vê-lo; fui até à
padaria mas, ao ver a porta fechada, lembrei-me que era segunda-feira e estava
fechada; contudo, se não tivesse ido até aí, não teria visto o arco-íris. Vi
também uma rapariga que quase desaparecia por debaixo do seu guarda-chuva
transparente, o que não deixa de ser interessante: alguém que se escondia por
debaixo de algo transparente.
Depois, caminhei até à padaria mais próxima; no caminho, lembrei-me da
minha desventura de hoje: cortei o meu cartão sim para adaptá-lo a um outro
telefone e, desde então, o telefone indica que estou em “roaming”. Finalmente,
um telefone que parece adaptar-se aos tempos que vivemos: mesmo estando no que
deveria ser o seu país de origem, indica que está em “roaming”. Haverá custos
associados? A talho de foice, digo também que me senti em “roaming”, na Madeira,
há dias. Senti-me turista, em casa, e não gostei. Seria do chapéu de palhinha
(mas ele tinha sido comprado na Rua de Santa Maria; pois, talvez nenhum
madeirense compre chapéu de palhinha na Rua de Santa Maria; será como o peixe
espada com banana?) ou de andar a saltitar do jardim do Museu Frederico de
Freitas até ao Convento de Santa Clara?
Depois, quando voltava a casa, na rua Beethoven (e talvez não por acaso) vi
um graffiti (acho que, talvez, o primeiro graffiti que vi neste bairro): “et si
les lendemains dansaient” (e se os amanhãs dançassem); abriu-se-me um sorriso
de ponta a ponta, escarlate, como a tinta do graffiti. Já estou em pulgas para
amanhã (na verdade, hoje, dia em que escrevo). Como diria o José Duarte, na
Antena 1, “A menina dança?”.
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