Tenho ouvido amiúde a canção-farol da Adele, “Someone
like you”; de repente, está no carro, depois já se escapuliu para o restaurante
na rua de piso empedrado e voa pelo bar por onde passo ao ir ver o jogo Marítimo
- Santa Clara.
A Adele interessa-me mais depois de me ter sido
dito que ela não pôde cantar nem falar durante algum tempo devido a uma microcirurgia
à garganta. Por isso, a sua música omnipresente parecia-me um tributo da vida à
sua voz que se ouvia por todo o lado mesmo quando nem falar podia.
Ao ver o video clip, vejo que “Someone like you” é
uma canção volante, filmada a preto e branco, enquanto Adele deambula pelas
ruas de Paris; reconheço, ao passar fugazmente pela câmara, a torre Eiffel
e a cúpula, que mesmo filmada a preto e branco consigo ver dourada, dos “Invalides”,
o hospital onde se recebem os feridos graves de guerra, ultimamente, do
Afeganistão; será que a voz desta mulher que não fala chega também ao Afeganistão?
A certo momento do vídeo, a Adele deixa de mover
os lábios mas a música, emprenhada da sua voz, não pára; uma premonição da voz
que, omnipresente, se suspenderia?
Apercebo-me que Adele usa na orelha esquerda – a orelha contrária à que Van Gogh esventrou - uma arrecada que é uma
aliança; como poderemos não nos casar, através do ouvido, com a Adele que,
cantando, não consegue falar. No segundo video clip vejo o interior da casa da Adele e é como se a visse por dentro; vejo, com toda a certeza, uma voz que não acaba nunca.
Adele, no seu blog, parece ser costume assinar os
seus escritos com always adele (ao que vai implícito, “and my voice”).
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