Se não se quer a coesão nacional diga-se de uma vez por todas (...),
se não querem continuar com os madeirenses digam uma vez por todas,
porque nós também não fazemos questão”.
Alberto João Jardim, 22 de Janeiro de 2012
Esta citação de Alberto João Jardim merece-me, acima de tudo, a minha
indignação como madeirense e português que sou e não posso, por isso, deixar de
fazer alguns reparos.
Eu acredito – não piamente mas racionalmente - que a identidade madeirense
não é dissociável da identidade portuguesa, apesar de não se sobreporem
milimetricamente uma à outra; por conseguinte, creio que, em vez da aniquilação
que o presente governo da República pretende operar ao reduzir até ao irrisório
a produção dos centros regionais da RTP Madeira e RTP Açores, seria preferível
privilegiar-se as respectivas produções regionais e incluir-se os referidos
canais na TDT e, porque não (?), na grelha dos canais de TV cabo dos diferentes
operadores. A importância de nos conhecermos mutuamente, mesmo aqueles com quem
se partilha a casa (“domus”, em latim, significa ao mesmo tempo “pátria” e “casa”),
talvez evitasse alguns mal-estares que ferem a essência do que é ser-se
português. A isto, claro, acrescentar-se-iam muitas outras medidas como o
estudo da história da Madeira e dos Açores nos diferentes graus de ensino nas
regiões autónomas como em Portugal continental porque o populismo e a demagogia
grassam no terreno fértil da ignorância e não foi só Salazar que o percebeu.
Claro que Alberto João Jardim e seus sequazes têm muito pouca razão ao reivindicar
um estatuto de portugalidade, agora, quando há necessidade por causa de uma
dívida feita, e, o que é mais grave, sonegada ao controlo dos respectivos organismos, às custas – dizem-nos - da
construção de uma Madeira que eles apelidam de Madeira nova. Tenho idade
suficiente para me recordar de tolices sobre o “povo superior” (o que pressupõe
um povo inferior), os “cubanos” – referindo-se aos Portugueses de Portugal
Continental - e que muitas pessoas alegremente o repetiam; eu sempre achei que aqueles
que eram perigosos não eram os que repetiam estas ideias peregrinas utilizando
uma filosofia de Maria-vai-com-as-outras mas sim aqueles que o fazem (faziam?)
por realmente acreditarem no que dizem.
Claro que também não fico indiferente às diatribes contra o povo
madeirense; em épocas de crise necessita-se de um bode expiatório: a Alemanha
teve-o (tem-no) com a Grécia (e com os PIIGS, em geral) e Portugal parece querer encontrá-lo também na
população da Madeira. Quanto a mim, parece-me que o que diz respeito à
governação (ou falta dela) deve ser posto a escrutínio dos eleitores mas o que
é do foro dos tribunais deve ser minuciosamente investigado e, se houver fundamento
para tal, julgado.
Há que perceber que a população da Madeira não é sinónimo de Governo
Regional, mesmo que este último tenha sido mandatado politicamente pela
primeira.
Num mundo em que há um conjunto de identidades concêntricas que nos são
inerentes, onde está a antítese em ser-se madeirense, português, europeu e cidadão
do mundo? É pena é que a Madeira nova não o perceba (ou faça-se despercebida) e
que ninguém o pareça contrariar publicamente. Gostaria
também de saber o que pensa o senhor Representante da República sobre estas
questões.
Goethe, ao falecer, pediu um bocadinho mais de luz; e que tal um
bocadinho mais de transparência nos assuntos da causa pública?
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