sábado, 20 de junho de 2015

Vale tudo ou o mundo dos pontos pequenos dos girassóis


Na praça do mar, onde palmeiras se cruzam com vegetação endémica da Madeira (valha-nos o dragoeiro), ainda há resquícios da Madeira Velha: há sem-abrigo que têm o desplante de dormir em pleno dia, no mesmo luar onde, nos Sábados à noite de Junho, se vê o fogo de artifício, entre músicas e sorrisos.

Precisamos que nos dêem menos música e mais sorrisos, daqueles de verdade, não daqueles que visam o nosso bolso.

Ontem, comprei um bordado madeira a uma senhora que já não podia bordar girassóis porque era ponto muito pequeno. O olhar-sol (e não falo do olhar de Luís XIV) eclipsa-se ao mesmo tempo que o girassol fica desnorteado pois não sabe para onde voltar-se. Aqueles a quem lhes reduziram pensões, salários, lhes tiraram a liberdade de ganhar o pão arregaçando as mangas e picando o ponto – mesmo que imaginário - também perderam, pelo menos momentaneamente, o sol que os iluminava.

Quando se perde um emprego são precisas outras referências mas numa sociedade alicerçada no modelo social trabalho-casa-carro-férias-e-tudo-cada-vez-maior-e-mais-longe não é possível existir sem trabalhar. Em tempos, um amigo lembrou-me que disfuncional é aquele que não tem função (i.e. emprego).

Disfuncional é uma sociedade alicerçada nos pontos pequenos do girassol e que não olha pela/à vista da senhora que já não os pode desenhar, bordando-os.

Agora, vou ao mercado (não o que nos suga a alma e empresa com alma parece que foi algo que nunca existiu) mas o de verdade, onde trabalha gente, o dos Lavradores, no Funchal.

Bom Sábado com pontos pequenos dos girassóis!