sábado, 31 de dezembro de 2011

Occupy Christmas inside of you


In the end of this year, and with the new year already blinking, I think that it would be important for us to occupy that Christmas that exists in each and everyone of us and make it last. Occupy means mostly to be responsible for, and by changing ourselves we change the world, and the world’s Christmases!



Post-Scriptum I: As you might have noticed, we started occupying Christmas with Elodie’s butterfly, the eyes of an unknown painter, and my unsettled handwriting.

Post-Scriptum II: Painting done in Zona Velha do Funchal, at the early hours of the 31st December 2011.



Conversas que mudam de cor


Andava há já uns tempos à procura de uma carteirinha de cabedal para pôr trocos como a que o meu avô Ferreira usava; dentro, havia moedas da obra de vimes e de outros cantos da vida. O cabedal, como a vida, ia mudando de cor conforme o uso.

Há dias, no Largo da Restauração, no Funchal, (re)encontrei o senhor que trabalha com cabedal e que tinha as - infelizmente já caídos em desuso - carteiras. “Os chineses vendem estas carteiras, em plástico, a €2 e €3 e as pessoas compram. Os taxistas já não as usam”. O que ele não sabia é que eu tinha perguntado a um taxista amigo da botânica e das línguas, em suma, curioso da vida, onde poderia encontrar estas carteirinhas. Quando a encontrei, fiquei contente; foi como dar um abraço ao meu avô. Da próxima vez que transportar troco, fá-lo-ei na minha carteira de cabedal da Madeira, enquanto a cor da vida vai mudando.

O Largo da Restauração leva o nome de todo um percurso histórico, que, em 2012, não será lembrado com um feriado mas eu nunca me esquecerei que o Largo da Restauração restaurou-me o gosto de guardar trocos nas carteiras de cabedal do meu avô.




quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cores da Madeira II - Montanha Laranja

Na Madeira, no Lugar de Baixo, há uma montanha laranja; temos é que estar atentos porque ela só aparece ao pôr-do-sol.


Quando temos um arraial por dentro e bebemos laranjada é como se provássemos o pôr-do-sol do Lugar de Baixo; e sabe bem... 

Cores da Madeira I - Verde e Castanho

Andava pela levada e encontrei uma seta para o verde; tínhamos era que passar pelo castanho para lá chegar.


Portas I




Porta de uma casa nos "Salgados", Camacha, Ilha da Madeira; fotografia tirada depois de um almoço de família, a 27 de Dezembro de 2011. Nota: dos Salgados vêem-se as desertas e o mar (Ó mar dos Salgados; quantas das tuas portas são abraços de Portugal?)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vejo o Natal


Ontem, do avião, vi o sol atlântico, que me escapava há já uns meses; o atlântico, esse horizonte desnivelado que leva e traz.

O menino que se sentava por detrás de mim, dizia, ao ver as primeiras luzes da Madeira: “vejo a cidade”; o menino dentro de mim pensava: vejo o Natal.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O mar africano de Estrasburgo

Dia em que Cesária Évora levanta âncora

Sabia que em Estrasburgo havia canais, ilhas (ou penínsulas), comportas, barcos, um dos grandes rios europeus, o Reno, mas não sabia que havia mar. Descobri-o, há dias, ao percorrer o Outono nesta mesma cidade e ao ver esta árvore no Parc de l’Orangerie. Via a voluptuosidade do amarelo a penetrar o verde vivo da relva e a revelar um mar azul, bem azul como aquele que Cesária Évora nos bordou por dentro. Agora que sei que há mar em Estrasburgo, iço, ufano, a vela árabe do meu barco e rumo vento acima e vento abaixo até chegar ao porto prometido da humanidade, a ponte entre mim e o outro; assim, tenho a certeza que navegando, pontifico.





segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

The morn(a)ing star of Václav Havel

Yesterday, when I was biking home, Elodie told me that there was a star in the tower of St. Maurice’s church. What no one knew was that the star was put there to honour Vaclav Havel. I swear that when passing next to it, it was like hearing a morna.



Post-Scriptum: sent by a friend - images of how Czech people pay tribute to Václav Havel http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wiFZbbd438g

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O silêncio das palavras

Acabo este jejum de palavras de há já alguns dias com um silêncio; ontem, participei do meu primeiro círculo do silêncio: a cada último dia do mês – entre o silêncio de um mês que acaba e do furor de um mês que começa – há um grupo de pessoas representando um largo espectro de considerações religiosas, filosóficas – que se unem, na Praça Kléber, em círculo, por uma causa. A Praça Kléber fica numa “quase-ilha”, numa península, e é também simbólico que um círculo com um lampião no meio se faça com pontes de palavras em silêncio.

Neste 30 de Novembro, a causa era os imigrantes em situação irregular, ao não dito da violência das expulsões de cidadãos estrangeiros (mas cidadãos), muitas vezes, em situações desumanas. No círculo, havia pessoas em cujas costas aladas assentavam pósteres que também os faziam voar, lá longe: “sem papéis mas não sem direitos”, lia-se nalguns. Dentre os presentes, reconheci Simone Fluhr, uma das organizadoras dos círculos e a militante dos direitos humanos que esteve na origem da criação da Associação Casas, que presta auxílio aos requerentes de asilo. Acabo de ler no sítio electrónico da Associação que a grande maioria dos requerentes de asilo que chegam a Estrasburgo não sabem falar francês; há um silêncio imposto, um silêncio que transborda de estórias e que a Associação as dá a conhecer para os proteger.

Neste círculo, as pessoas-feitas-cidadãos mostram que ninguém as cala; e, por isso, em pleno séc. XXI de twitters, facebooks, youtubes e quejandos oferecem, simplesmente, o seu silêncio. Imolam as palavras como quem foi deprivado do seu carrinho de vender legumes e já não tem mais nada a não ser o seu silêncio.

Este círculo fazia-se a poucos passos do pinheiro de Natal que se diz ter sido o primeiro.

Quebro o jejum com este silêncio ao ouvir a esposa de Xanana, a sua primeira dama, a dizer que o enamoramento começou através de cartas que escreviam um ao outro enquanto Xanana estava na cadeia; que força maior haverá do que o silêncio das palavras?