sexta-feira, 16 de novembro de 2012

“Onde está a esperança?” Logo ali.


"Onde está a esperança?". Era este o mote para o programa “Prós e Contras” do dia 12 de Novembro, dia em que Angela Merkel visitou Portugal.

No decorrer do programa, procurava-se a esperança quando, a determinada altura, a esperança levantou-se e falou: disse que tinha 48 anos, um subsídio de desemprego de €248, que antes trabalhava no comércio e que vivia com duas filhas, uma delas com 22 anos e também desempregada. A filha mais velha não pôde ingressar no ensino superior por razões que se subentenderam. Havia também um abono de família de €42 da filha mais nova, que tem 15 anos e que estava a estudar. Esperança (digo, Gertrudes) já tinha vendido os anéis e já nem anéis havia. Havia também um subsídio de reinserção de €42. Fátima Campos Pereira pergunta: “Onde está a sua esperança, hoje”? Infelizmente, poucos naquela sala, incluindo a apresentadora, se aperceberam que a esperança estava ali, era ela, personificada em Gertrudes Moura, porque não interessa o que se lhe chama mas aquilo que é.

O que fico a pensar é que, havendo tanta dificuldade para perceber que a Esperança estava ali, naquela sala cheia, será que deixámos ir embora a Esperança sem a confortar, sem a ajudar, sem dizer-lhe: Esperança (digo, Gertrudes), isto não é muito mas dentro deste abraço-envelope vai o que ainda temos, a solidariedade deste país. Talvez não tenha havido abraço-envelope, e mesmo se tivesse havido, não era caridadezinha, era um dever de solidariedade.

A senhora Merkel, penso, nunca ouviu falar de Gertrudes Moura mas já terá ouvido falar de esperança; não sei é se a reconhecerá nestas vestes. E os senhores Primeiro-Ministro e Presidente da República? Falaram, respectivamente, à senhora Merkel da Gertrudes Moura (digo, da Esperança)?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Pão frio e Mundo quente


Hoje, de manhã, como em muitas outras manhãs, fui comprar o pão e “Le Monde” (jornal francês intitulado “O Mundo”). Hoje, dia de greves (quase) gerais, em que nem [se] (h)ouve sinais de Fernando Alves, o pão vinha frio e o mundo vinha quente. Sinais dos tempos?

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Onde está o escarlate-presente? Ouvimo-lo?


Eu comprava o mundo (“Le monde”) e ela agarrava-me na nota que o pagava e dava-me o troco como quem joga berlindes, numa velocidade infernal. À saída, uma senhora de cabelos brancos, que lhe vão bem com o casaco de Inverno escarlate, estaciona o carro alemão com uma rapidez que penso ir acabar o mundo. O mundo não acaba, pelo menos, hoje, penso eu, talvez equivocado.

Folheio a revista que veio com o jornal no serão de sexta e encontro o escarlate do casaco da senhora. É uma fotografia de Nobuyoshi Araki e leio o seguinte: “(…)Et toute photo n’est rien d’autre que la répresentation d’un jour unique. Et ce jour unique contient à la fois le passé et la projection de l’avenir”. Lido isto fico a pensar cá para mim se o presente-escarlate que escaparia a esta foto não estaria nos berlindes imaginários da rapariga da tabacaria e no casaco da senhora do carro alemão. Quem sabe?

Tudo isto me parecia, contudo, tão distante do silêncio, que, acoplado a uma folha em branco e, nos movimentos de uma caneta, nos faria ouvir Deus (ouvir aqui o programa de 8 de Novembro da “Global News” da BBC sobre “joy of silence”) ou, o que talvez seja o mesmo, nós mesmos.