sexta-feira, 24 de agosto de 2018

“déjeuner sur [ou sans] herbe” post-moderno

Ela usava um vestido estampado de flores que lhe deixava os ombros descobertos (achados?), como sabe bem no Verão. Estou muito longe – e os meus conhecimentos de botânica deveriam ser certamente aperfeiçoados - para perceber que flores são. Ela escrevinha num papel enquanto, bem ou mal, vai segurando o telefone entre o ouvido – que vai trocando – e a mão que não segura na caneta. “Oui”, “ok” vão, de quando em vez, entrecortando o que o interlocutor lhe vai dizendo. Poderia ser uma pintura, um “déjeuner sur l’herbe” post-moderno em que ela estava sozinha, com o almoço que comprara à pressa para levar e sem quase ter tempo de levantar os olhos para apreciar o lugar onde estava; talvez um “déjeuner sans herbe”.  O bulício não parava; não podia parar. Num movimento irreflectido, olho para a porta, e, nesse mesmo momento, entra uma rapariga com um véu, uma outra personagem para o “déjeuner sur [ou sans] herbe” post-moderno? 



v. Into the Fashion INSPIRATION Édouard Manet 1863... Pablo Picasso 1960. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Vulnerabilidade superficial e a moral da história

Hoje, cortei-me, uma ferida superficial, ao cortar um fruto que se diz legume, um tomate. Cortei-me na mão esquerda, onde se (diz que se) lê o futuro. Parece-me que não foi na linha da vida, e, desse ponto de vista, estou (as)segurado.

Quando conduzia, na auto-estrada, a ouvir os Mutrama, e andava na minha "pensação" de menino, vi as costas de um camião onde estava escrito "Mehr Licht", as últimas palavras de Goethe. Pareceu-me apropriado ao CD que ouvia. 

Andei a poupar nestas férias uma moeda eslovena de €1, que nunca tinha visto, com um desenho que me parecia - só parecia porque certamente não era - uma cruz de Lorena. Hoje, depois de todas as peripécias para não gastar essa moeda de €1, recebi uma moeda de €2 com o mesmo desenho. Deixo ao vosso escrutínio a moral da história.