sábado, 28 de abril de 2012

Ver-a-cidade

Hoje em dia, parece que ou temos sempre a bola e que as linhas de passe estão (quase) todas fechadas ou que ninguém nos passa a bola. Vi finalmente o filme “Linha de Passe” de Walter Salles e de Daniela Thomas. O DVD contém também uma entrevista com os realizadores; a páginas tantas, Daniela Thomas enuncia que o filme é sobre veracidade. Fiquei na dúvida: seria sobre a veracidade da cidade ou sobre ver a cidade. Pensei cá para mim que podemos ver a cidade sem veracidade. A família do filme, que todos os dias e a toda a hora tem que abrir linhas de passe mesmo sem saber se poderá alguma vez participar daquele jogo, mora na Cidade Líder, um distrito-subúrbio (ou será subterfúgio?) a leste da cidade de São Paulo; mas poderia também chamar-se Cidade Invisível. É uma cidade que não se sabe onde é, da qual não se ouve falar; é uma cidade a quem não se passa a bola, mas ela apanha-a para a meter em jogo, para que o jogo não pare. O jogo não pode parar.
A veracidade da cidade está em ter a coragem de interromper o jogo e imaginá-lo fora do estádio onde nos disseram que podíamos jogar. Aí, haverá linhas de passe para todos e a cidade invisível será, finalmente, a cidade líder. Para isso é preciso que nos lembremos que este é verdadeiramente um jogo colectivo.


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