sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Onde está o escarlate-presente? Ouvimo-lo?


Eu comprava o mundo (“Le monde”) e ela agarrava-me na nota que o pagava e dava-me o troco como quem joga berlindes, numa velocidade infernal. À saída, uma senhora de cabelos brancos, que lhe vão bem com o casaco de Inverno escarlate, estaciona o carro alemão com uma rapidez que penso ir acabar o mundo. O mundo não acaba, pelo menos, hoje, penso eu, talvez equivocado.

Folheio a revista que veio com o jornal no serão de sexta e encontro o escarlate do casaco da senhora. É uma fotografia de Nobuyoshi Araki e leio o seguinte: “(…)Et toute photo n’est rien d’autre que la répresentation d’un jour unique. Et ce jour unique contient à la fois le passé et la projection de l’avenir”. Lido isto fico a pensar cá para mim se o presente-escarlate que escaparia a esta foto não estaria nos berlindes imaginários da rapariga da tabacaria e no casaco da senhora do carro alemão. Quem sabe?

Tudo isto me parecia, contudo, tão distante do silêncio, que, acoplado a uma folha em branco e, nos movimentos de uma caneta, nos faria ouvir Deus (ouvir aqui o programa de 8 de Novembro da “Global News” da BBC sobre “joy of silence”) ou, o que talvez seja o mesmo, nós mesmos.


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