sexta-feira, 24 de agosto de 2018

“déjeuner sur [ou sans] herbe” post-moderno

Ela usava um vestido estampado de flores que lhe deixava os ombros descobertos (achados?), como sabe bem no Verão. Estou muito longe – e os meus conhecimentos de botânica deveriam ser certamente aperfeiçoados - para perceber que flores são. Ela escrevinha num papel enquanto, bem ou mal, vai segurando o telefone entre o ouvido – que vai trocando – e a mão que não segura na caneta. “Oui”, “ok” vão, de quando em vez, entrecortando o que o interlocutor lhe vai dizendo. Poderia ser uma pintura, um “déjeuner sur l’herbe” post-moderno em que ela estava sozinha, com o almoço que comprara à pressa para levar e sem quase ter tempo de levantar os olhos para apreciar o lugar onde estava; talvez um “déjeuner sans herbe”.  O bulício não parava; não podia parar. Num movimento irreflectido, olho para a porta, e, nesse mesmo momento, entra uma rapariga com um véu, uma outra personagem para o “déjeuner sur [ou sans] herbe” post-moderno? 



v. Into the Fashion INSPIRATION Édouard Manet 1863... Pablo Picasso 1960. 

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