terça-feira, 27 de setembro de 2011

A harpa e a empatia pela harpa

Sento-me no parque que tem o nome do laranjal que outrora aí existia (Parc de l’Orangerie), em Estrasburgo. Perto de mim, há um senhor que fala sozinho; ele está descalço como o harpista do concerto de Domingo. Fomos a um concerto no decorrer do festival “Musica” e, no intervalo, um senhor de blazer aos quadrados subiu ao palco e pôs-se a tocar harpa; abraçava a harpa com afeição e tocava-a com estima, o que já vai escasseando, mesmo entre humanos. Imaginei-o na sua sala alcatifada e em cores outonais a observar a sua harpa, que lhe retribuía o olhar compenetrado. Na segunda parte do espectáculo, o senhor já vestido com a “farda” de músico (afinal, às vezes, o hábito parece ajudar a fazer o monge) tocava, descalço, a harpa. Lembro-me de, há muitos anos, ter ido a um concerto dirigido pelo maestro Vitorino de Almeida no Teatro Municipal do Funchal (de seu nome Baltazar Dias, homem das letras cego). Vitorino de Almeida gracejou porque tiveram que trazer a harpa com que tocavam de Portugal Continental porque, na altura, a Madeira não tinha uma harpa. Nessa altura ser-me-ia difícil imaginar que o arquipélago da Madeira teria várias cidades, túneis a esventrar as distâncias e uma dívida de uma ordem que é difícil de imaginar, quanto mais pronunciar. Hoje, temos harpa e tudo o mais. Teremos também a empatia do senhor do blazer aos quadrados pela sua harpa?

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