quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Crónicas de um país em guerra, II


O que era estranho não era haver uma imagem de uma baguete na reportagem da Agence France Presse; o que era estranho era o contexto: aquela baguete, esse substantivo feminino que amolece corações como se amolece estômagos, posicionada como um míssil de longo alcance (apesar deste míssil não matar ninguém, apenas a fome), encimava um monte de provisões que esperava por ser cuidadosamente acondicionado no blindado que seguiria para o Norte (do Mali); a ajuda veio do Norte para o Sul para que se pudesse combater a Norte evitando perigos ao Sul, que se propagariam a Norte.

Entre caixas de munições, mochilas com o essencial para sobreviver, rádios e sonhos de estabilidade e unidade, havia aquela baguete. Apontaria também ela para o Norte?

Minutos antes, via Daniel Cohn-Bendit discursar, no Parlamento Europeu, perante a Alta Representante da União (?) [Europeia] para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança; ele dizia que falamos em “nós” mas são as tropas francesas que estão no terreno; que “nós” vamos enviar os enfermeiros para cuidar dos feridos enquanto os franceses, sozinhos, estarão apeados, no Norte (ou a caminho do Norte). A Alta Representante tomava notas enquanto olhava, de quando em vez, para Cohn-Bendit. Será que essas notas apontariam também para Norte?

A baguete, fresca, com rasgos de padeiro, apontava, certamente, para Norte. A dificuldade é saber quem e o que regressará do Norte.

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