sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O silêncio das palavras

Acabo este jejum de palavras de há já alguns dias com um silêncio; ontem, participei do meu primeiro círculo do silêncio: a cada último dia do mês – entre o silêncio de um mês que acaba e do furor de um mês que começa – há um grupo de pessoas representando um largo espectro de considerações religiosas, filosóficas – que se unem, na Praça Kléber, em círculo, por uma causa. A Praça Kléber fica numa “quase-ilha”, numa península, e é também simbólico que um círculo com um lampião no meio se faça com pontes de palavras em silêncio.

Neste 30 de Novembro, a causa era os imigrantes em situação irregular, ao não dito da violência das expulsões de cidadãos estrangeiros (mas cidadãos), muitas vezes, em situações desumanas. No círculo, havia pessoas em cujas costas aladas assentavam pósteres que também os faziam voar, lá longe: “sem papéis mas não sem direitos”, lia-se nalguns. Dentre os presentes, reconheci Simone Fluhr, uma das organizadoras dos círculos e a militante dos direitos humanos que esteve na origem da criação da Associação Casas, que presta auxílio aos requerentes de asilo. Acabo de ler no sítio electrónico da Associação que a grande maioria dos requerentes de asilo que chegam a Estrasburgo não sabem falar francês; há um silêncio imposto, um silêncio que transborda de estórias e que a Associação as dá a conhecer para os proteger.

Neste círculo, as pessoas-feitas-cidadãos mostram que ninguém as cala; e, por isso, em pleno séc. XXI de twitters, facebooks, youtubes e quejandos oferecem, simplesmente, o seu silêncio. Imolam as palavras como quem foi deprivado do seu carrinho de vender legumes e já não tem mais nada a não ser o seu silêncio.

Este círculo fazia-se a poucos passos do pinheiro de Natal que se diz ter sido o primeiro.

Quebro o jejum com este silêncio ao ouvir a esposa de Xanana, a sua primeira dama, a dizer que o enamoramento começou através de cartas que escreviam um ao outro enquanto Xanana estava na cadeia; que força maior haverá do que o silêncio das palavras?

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