quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Futebol: um jogo de gente grande?

O Qatar é o país onde decorrerá o Campeonato do Mundo de Futebol em 2022. Representantes da “International Trade Union Confederation (ITUC)”[1] chamam a atenção para o impacto negativo que esta decisão poderá ter nos trabalhadores - num país onde a grande maioria dos trabalhadores são imigrantes - se os seus direitos continuarem a não ser respeitados[2]. Sharan Burrow, a Secretária Geral da ITUC apelida as condições que os trabalhadores migrantes no Qatar enfrentam de uma “existência miserável”. Sharan reunir-se-á em breve com representantes da FIFA e dos adeptos de futebol para discutir a selecção do Qatar para a organização de tal evento; a ITUC propugna que a realização de tal evento seja condicionada ao respeito, pelas autoridades do Qatar, das condições de trabalho exigidas pela Organização Internacional do Trabalho; caso contrário, a ITUC promoverá uma campanha internacional contra a realização do campeonato do mundo de futebol no Qatar. O que dirá a FIFA? Talvez ainda mais importante: o que dirão os adeptos de futebol? Haverá lugar a Primaveras no futebol?

A relatora especial da ONU para o direito à habitação condigna, a brasileira Raquel Rolnik, apelida a FIFA de organização internacional desprovida de muito pouco respeito a qualquer tipo de consideração ou direito e uma estrutura extremamente corrupta. Ela pede que a organização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2014 no Rio de Janeiro seja usada para “crescer [n]os direitos de cidadania” e isso seria também necessário para tornar o Brasil [um país de] "gente grande”[3]. A mim, parece-me que isso seria também necessário para tornar a FIFA uma organização de gente grande.
Há dias, o jogo de Portugal contra a Bósnia deixou-me um travo agridoce na boca. Apesar de alertado para não o fazer, um grande número de adeptos portugueses assobiou durante o hino da Bósnia – o mesmo hino que tem vindo a provocar celeuma visto a sua letra não mencionar nem as duas entidades federais nem todas as etnias que habitam a Federação da Bósnia Herzegovina e que finaliza a sua letra com “we are going into the future together”[4]. Seguramente, quem assobia perante um hino doutro país não está preparado para desbravar um futuro acompanhado por outros. O futebol será certamente um jogo de gente grande mas é preciso prová-lo.


[2] Actualmente há salários medíocres, condições de trabalho que não estão de acordo com as mais básicas normas de segurança e locais de trabalho que são prisões a céu aberto pois os documentos dos trabalhadores imigrantes são, por vezes, confiscados.
[3] http://www.ituc-csi.org/raquel-rolnik-un-rapporteur-on.html?lang=en consultado a 17 de Novembro de 2011 a 12:12.

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