sexta-feira, 18 de novembro de 2011

“O risco maior é manter o silêncio”


“O risco maior é manter o silêncio”[1]

José Rodrigues dos Santos, numa entrevista, hoje, ao Telejornal das 20h, no canal 1 da RTP, ao Primeiro-Ministro Português sobre a sua visita a Angola não lhe fez uma única pergunta relacionada com a falta de legitimidade democrática do regime angolano e da maneira como o Primeiro-Ministro Português parece querer alavancar um renascimento da economia portuguesa na “economia do saque”[2] angolano.  Sobre estas e outras estórias de Angola recomendo a entrevista ao jornalista angolano Rafael Marques por Mário Crespo: http://www.youtube.com/watch?v=f8ElN-pBC2k . Rafael Marques refere, dentre outras coisas, que “Portugal tornou-se uma lavandaria para o produto de saque feito em Angola”.

Hoje, assisti a uma cena de uma tristeza imensa, aquando da entrevista de José Rodrigues dos Santos a Passos Coelho, onde o silêncio do jornalista sobre estas questões fundamentais era lancinante. Infelizmente, este tratamento subserviente a um regime angolano que não respeita o seu povo tem sido transversal aos diferentes governos portugueses no poder. Um Estado que se conduz assim já morreu mesmo que ainda subsista financeiramente. Agora há que reinventá-lo.

A dado momento da entrevista a Rafael Marques, fala-se de uma possível sucessão de José Eduardo dos Santos pelo Presidente da Sonangol, Manuel Vicente. Rafael Marques declina qualquer possibilidade de mudança de regime com esta possível transição e, para quem ainda tenha dúvidas, recomendo a leitura do seguinte artigo[3] que refere que Manuel Vicente é também o Presidente de uma “joint venture” chamada China Sonangol, a quem cabe, desde 2005, a exportação do petróleo de Angola para a China, i.e., o Presidente da única empresa pública angolana que tem “o poder e o direito de autorizar o exercício de actividades de exploração e produção de hidrocarbonetos em território Angolano, quer em terra quer em alto-mar”[4] é também o Presidente de uma entidade de direito privado que medeia o negócio de compra e venda de quase todo o petróleo de Angola à China, que, alegadamente, compra com valores de 2005 e vende a valores de mercado com um valor estimado em cerca de US$ 20 mil milhões, apenas o ano passado[5].

O que é ainda mais grave é que não é só o dinheiro que não chega à população de Angola mas são as alegações de que este dinheiro destina-se também a favorecer certos homens políticos e, por conseguinte, a alimentar conflitos como os da Guiné Conacri, onde, em Setembro de 2009, homens ligados ao Governo estiveram por detrás de violações em massa e da morte de 150 manifestantes num estádio[6]; um mês depois de tal evento a referida “joint venture” transfere para a pecuniariamente moribunda junta, devido a sanções da UE e da União Africana, um montante de US$ 100 milhões a troco de um negócio com minério.

É este o dinheiro que queremos a salvar Portugal? Ou será tempo de nos descolonizarmos?


[1] Frase proferida por Rafael Marques na citada entrevista ao jornalista Mário Crespo.
[2] Ibidem
[3] http://www.economist.com/node/21525847 consultado a 18 de Novembro de 2011 às 00:20.
[5] v. nota de rodapé 3.
[6] Ibidem

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