segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Eu faço questão


Se não se quer a coesão nacional diga-se de uma vez por todas (...),

se não querem continuar com os madeirenses digam uma vez por todas,

porque nós também não fazemos questão”.

Alberto João Jardim, 22 de Janeiro de 2012



Esta citação de Alberto João Jardim merece-me, acima de tudo, a minha indignação como madeirense e português que sou e não posso, por isso, deixar de fazer alguns reparos.

Eu acredito – não piamente mas racionalmente - que a identidade madeirense não é dissociável da identidade portuguesa, apesar de não se sobreporem milimetricamente uma à outra; por conseguinte, creio que, em vez da aniquilação que o presente governo da República pretende operar ao reduzir até ao irrisório a produção dos centros regionais da RTP Madeira e RTP Açores, seria preferível privilegiar-se as respectivas produções regionais e incluir-se os referidos canais na TDT e, porque não (?), na grelha dos canais de TV cabo dos diferentes operadores. A importância de nos conhecermos mutuamente, mesmo aqueles com quem se partilha a casa (“domus”, em latim, significa ao mesmo tempo “pátria” e “casa”), talvez evitasse alguns mal-estares que ferem a essência do que é ser-se português. A isto, claro, acrescentar-se-iam muitas outras medidas como o estudo da história da Madeira e dos Açores nos diferentes graus de ensino nas regiões autónomas como em Portugal continental porque o populismo e a demagogia grassam no terreno fértil da ignorância e não foi só Salazar que o percebeu.

Claro que Alberto João Jardim e seus sequazes têm muito pouca razão ao reivindicar um estatuto de portugalidade, agora, quando há necessidade por causa de uma dívida feita, e, o que é mais grave, sonegada ao controlo dos respectivos organismos, às custas – dizem-nos - da construção de uma Madeira que eles apelidam de Madeira nova. Tenho idade suficiente para me recordar de tolices sobre o “povo superior” (o que pressupõe um povo inferior), os “cubanos” – referindo-se aos Portugueses de Portugal Continental - e que muitas pessoas alegremente o repetiam; eu sempre achei que aqueles que eram perigosos não eram os que repetiam estas ideias peregrinas utilizando uma filosofia de Maria-vai-com-as-outras mas sim aqueles que o fazem (faziam?) por realmente acreditarem no que dizem.

Claro que também não fico indiferente às diatribes contra o povo madeirense; em épocas de crise necessita-se de um bode expiatório: a Alemanha teve-o (tem-no) com a Grécia (e com os PIIGS, em geral) e Portugal parece querer encontrá-lo também na população da Madeira. Quanto a mim, parece-me que o que diz respeito à governação (ou falta dela) deve ser posto a escrutínio dos eleitores mas o que é do foro dos tribunais deve ser minuciosamente investigado e, se houver fundamento para tal, julgado.

Há que perceber que a população da Madeira não é sinónimo de Governo Regional, mesmo que este último tenha sido mandatado politicamente pela primeira.

Num mundo em que há um conjunto de identidades concêntricas que nos são inerentes, onde está a antítese em ser-se madeirense, português, europeu e cidadão do mundo? É pena é que a Madeira nova não o perceba (ou faça-se despercebida) e que ninguém o pareça contrariar publicamente. Gostaria também de saber o que pensa o senhor Representante da República sobre estas questões.
 Goethe, ao falecer, pediu um bocadinho mais de luz; e que tal um bocadinho mais de transparência nos assuntos da causa pública?

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