sábado, 8 de outubro de 2011

A "Esplanade du Trocadero", a senhora Maria e a ausência de onda curta

Na "Esplanade du Trocadero", sentimo-nos donos do mundo mesmo sabendo que o mundo não é propriedade de ninguém, ao contrário do que muitos (especuladores) possam pensar.
Na "Esplanade du Trocadero", há artistas de rua, prestidigitadores, turistas, muitos, casais de namorados que vêm confirmar o seu carinho em frente da “Tour Eiffel”. Nos dias claros, sem névoa na imaginação, ainda conseguimos entrever as restantes construções da Exposição Universal de 1889. Gosto da "Esplanade du Trocadero" enquanto espaço público, inalienável, inapropriável, aberto a todos.

Gosto também do espaço público hertziano proporcionado pela onda curta. Há dias, lembrei-me da senhora com o lenço na cabeça (não, não são apenas algumas senhoras muçulmanas que o usam) com quem me cruzava na lavandaria – literalmente - da esquina, em Asnières, uma cidadezinha a Norte de Paris, onde as ruas têm nomes de filósofos. A senhora Maria, nome fictício pois nunca lhe perguntei o seu, em breve, deixará de poder escutar a RDP Internacional, em onda curta, pois o serviço será descontinuado. Tenho a certeza que nunca perguntaram à senhora Maria o que acha desta descontinuação; quanto a mim, não me parece que as requeridas poupanças se devam fazer à custa de quem frequenta as lavandarias – literalmente - de esquina. Com esta decisão, à senhora Maria ser-lhe-á muito provavelmente negado o espaço público português que chega aos locais mais recônditos ou àqueles que, sem ele, provavelmente, serão abrangidos pela infoexclusão mormente no que diz respeito ao seu país.

E sabemos o quão triste e pesado é não ter notícias do seu país e parece-me da mais pura justiça (e que bonita expressão) que a senhora Maria continue a ter notícias do seu (e do meu) país.

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