quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Mundo Azul sem fronteiras na mão do Menino Jesus ou o Futuro Presépio

Os Reis Magos[1], onde fui a banhos, ontem, trazem consigo o nome dos mesmos Reis Magos que vi no tecto da Igreja da Nossa Senhora da Luz, que não por acaso, certamente, se situa na Ponta do Sol. Quem vir os pôres-do-sol na Ponta do Sol, o sol a entrar lânguida e sabiamente naquele mar infinito, sentir-lhes-á, seguramente, a falta.
Na Madeira, quando se tomam banhos de mar, diz-se precisamente, “vou ao mar”; não se diz vou ao Oceano Atlântico; provavelmente porque o mar aproxima o que o oceano parece querer deixar distante.
Nos chãos dos Jardins da Quinta das Cruzes, de pedra rolada, havia flores e sementes – as sementes que, no Centro da Europa já estão secas, na Madeira, ainda estão verdes.
A mesma pedra rolada cobre o adro da Igreja da Nossa Senhora da Luz. No concerto de ontem à noite, onde não estive só: fui com a minha mãe, a minha tia e havia também uma flauta de bisel – que, como disse o titular do órgão da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, é por muitos associada a um instrumento de iniciação musical mas que teve um papel preponderante no século XVII - um órgão de tubos do século XVII e uma viola da gamba. Pensava que ia deixar-me embalar pela leveza dos madrigais, o que também me aconteceu, mas deixei-me, sim, embarcar na leveza do tecto hispano-árabe da capela-mor, e que bonito que ele é, pelos azulejos e pela estatuária exposta numa vitrine: vi a Nossa Senhora do Patrocínio, em cuja honra foi apelidada uma das capelas, reconheci um Menino Jesus pronto a fazer parte de um futuro presépio de escadinha (um presépio tradicional madeirense com fruta, frutos secos e amor viçoso) e um outro Menino Jesus segurando, na mão, um globo azul sem fronteiras delineadas; é precisamente neste mundo azul, e onde tomei, ontem, banhos de mar, em que acredito.
Post-scriptum I: Não será por acaso que me chamo MARco.
Post-Sciptum II: Como é impossível falar-se de presépio sem sentir o Natal, deixo aqui uns versos de Francisco Gomes da Silva, que abrem a sua viagem literária na “Baía da Saudade”: “Lindas manhãs de Dezembro, Chega a quadra do natal; Todos os dias me lembro, Dessa festa no Funchal. Há pregões por todo o lado, logo pelas manhãzinhas; Os vilhões e camacheiras, (…)”. Quando cheguei a casa, este livro esperava por mim na minha mesa de cabeceira, onde, agora, é Natal. Agradeço a quem lá o deixou.


[1] Os Reis Magos são (também) uma praia sita no Caniço, concelho de Santa Cruz, Ilha da Madeira.

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